Dr. Hugo R. Benalia - Cardiologista
O risco cardiovascular é o risco de ter um infarto, AVC ou morrer de doenças cardiovasculares ao longo do tempo. Qual é o seu?
Com certeza você conhece alguém que te disse ter medo de infartar. Pode até ser que você já tenha se deparado com esse medo. Isso talvez faça você pensar em consultar um cardiologista. Mas o que será que seu médico vai avaliar e como ele pode reduzir a chance de acontecer algo grave no seu coração?
Quando avaliamos um paciente no famoso “check up”, o objetivo é não somente diagnosticar possíveis doenças ainda não reveladas, mas também avaliar o risco dessas doenças se desenvolverem, bem como bolar estratégias para reduzi-lo.
E é aí que entra a avaliação do chamado risco cardiovascular. O risco cardiovascular nada mais é que uma estimativa da probabilidade que uma pessoa tem de infartar, ter um AVC ou até morrer do coração ao longo do tempo.
Para entender isso, precisamos entender o que é o infarto e por que ele acontece. O infarto nada mais é que a morte de células por falta de sangue. Quando isso acontece no coração (morte das células miocárdicas), chamamos de infarto agudo do miocárdio. Quando isso acontece no cérebro, chamamos de acidente vascular cerebral (AVC), ou comumente conhecido como “derrame cerebral”.
A principal causa da falta de sangue para essas regiões se chama aterosclerose. Trata-se de uma doença multifatorial em que, em última instância, as células que compõe as artérias (células endoteliais), responsáveis por levar o sangue nas diversas regiões do corpo, ficam doentes e começam a “puxar” o colesterol para dentro das camadas do vaso (vide vídeo). Isso gera uma respostas inflamatória, produzindo uma placa de aterosclerose, composta por:
1) Um núcleo, repleto de moléculas de colesterol, “atacadas” por células de defesa, o que gera uma reação inflamatória intensa.
2) Uma capa fibrosa que evita a exposição deste núcleo ao sangue circulante no interior do vaso.
Os fatores de risco que levam à essa alteração das células endoteliais são diversos, entre eles:
- Alterações do colesterol (principalmente o LDL)
- Hipertensão arterial
- Diabetes
- Tabagismo
- Idade
- Fatores genéticos (história familiar para infarto)
- Obesidade
- Doenças inflamatórias crônicas
Dessa forma, baseado na presença e intensidade destes fatores de risco, calculamos a probabilidade de ocorrer um infarto ou um AVC ao longo do tempo. Existem escores clínicos e laboratoriais para cálculo, na maioria das vezes estimando o risco em 10 anos. Em geral, um homem considerado de alto risco possui em 20% ou mais de chance de ter um evento adverso. Se for mulher, este risco é maior de 10%.
Nossa, tudo isso? Calma, esse risco ocorre se não adotarmos estratégias para reduzi-lo. Uma delas você com certeza já conhece: atividade física, dieta e um estilo de vida saudável . Outra estratégia baseia-se na redução do colesterol e estabilização das placas de aterosclerose. De maneira geral, quando o risco é alto, o LDL colesterol, aquele principal responsável pela formação das placas, deve ficar em níveis abaixo de 70mg/dL, ou mesmo em valores mais baixos caso você já tenha tido um infarto (Tabela 1).
Em alguns casos, o risco pelas calculadoras pode ser subestimado. Podemos então lançar mão de alguns exames para avaliar se de fato já não temos placas de aterosclerose. Veja bem: se você já foi capaz de formar tais placas, significa que você tem sim um risco aumentado que elas se rompam e venham a evoluir para um infarto e/ou AVC. Assim, a presença delas já te classifica como alto risco.
Podemos encontrar essas placas nas artérias carótidas que levam sangue para o cérebro, bem como nas artérias coronárias que levam sangue para o coração. A primeira, é bem avaliada pelo ultrassom Doppler de artérias carótidas e a segunda, pode ser avaliada pela angiotomografia de artérias coronárias.
Você sabe qual seu risco cardiovascular? Está na meta de LDL? Se não está, o que você está fazendo para atingi-la?
Procure o seu cardiologista. Estar dentro das metas reduz (e muito) o risco de você ter um infarto e/ou um AVC ao longo da sua vida!